Especialmente depois do jogo contra o Chile, muitos colocaram em xeque a liderança do capitão da Seleção Brasileira, Thiago Silva. Alguns disseram que ele travou, outros que ele se acovardou diante das dificuldades, enfim, criticaram bastante o seu comportamento.
A pergunta que fica é: quem está questionando a sua liderança? A imprensa, os torcedores, os comentaristas, os narradores... Sinceramente, não são questionamentos válidos. Não tenho visto os seus colegas de seleção, a comissão técnica nem Felipão questionando a liderança do capitão. E é isso o que importa!
E por que não estão questionando? Pelo simples fato de que ele não teve nenhum comportamento que denegrisse o seu posicionamento de líder. Você pode até interpretar o comportamento do jogador de maneira negativa, mas permita-me trazer um pouco da minha experiência e visão para essa história. Vamos aos fatos:
Nervosismo na estreia: de jogador a torcedor, quem não estava nervoso? Aliás, quem não estava tenso só tinha dois motivos: ou não gosta de futebol ou estava torcendo contra a seleção. No mais, estávamos todos apreensivos. Agora, imagine quando você tem milhões de pessoas depositando em você a esperança de ganhar um torneio como este em casa. Quem não ficaria nervoso? Pessoas ficam completamente apavoradas com o mínimo de pressão!
Então, leio diversos comentários nas redes sociais que dizem: “Ele ganha milhões para fazer isso. Não pode ficar nervoso assim...”. Quer dizer que se ele ganhasse pouco a pressão diminuiria? Que hipocrisia! Nessa hora, quando um hino é cantado da forma como foi pela torcida, quando um País inteiro conta com você, ninguém se lembra de quanto dinheiro ganha ou tem. Não é isso que importa! O que está em jogo é a honra, a realização, o propósito.
Ficar isolado durante a roda de comunhão dos jogadores: Thiago Silva estava navegando nas redes sociais enquanto isso acontecia? Por acaso ele estava arrumando o cabelo ou descansando um pouquinho? Claro que não! Ele estava em um momento de oração individual, encontrando a sua maneira de se motivar, de se tranquilizar. Ele estava, a seu modo, mandando fortes energias para os seus companheiros. Quantas vezes você já não quis ficar em silêncio, sozinho, antes de uma importante decisão na sua vida?
Não assumiu a responsabilidade: “O Thiago Silva pediu para não participar das cobranças de pênalti”, “O capitão da seleção não ofereceu palavras de incentivo a seus companheiros”, “Isso não é postura de líder!”. Você sabe qual é a postura de um líder? É não querer ser o astro. É permitir que outras pessoas assumam a liderança quando necessário, é delegar e dar poder evidenciando novas lideranças. Se o Paulinho estava inspirado para motivar as pessoas naquele momento, por que não deixá-lo fazer? Se existem outros jogadores mais preparados para as cobranças de pênalti, qual o problema de permitir a eles que assumam esta responsabilidade?
Quer saber? Thiago Silva é um grande líder! Um líder que as organizações precisam ter. Um líder que permite o surgimento de novas lideranças. Um líder que assume a responsabilidade das críticas e foca mais na vitória coletiva do que em sua vaidade. Um líder que se cobra, que joga com raça, que torce e reza pelos seus companheiros, que assume a responsabilidade... Esse é o Thiago Silva! Isso é ser líder!
Podemos debater vários aspectos que podem ser aperfeiçoados nesse time: estratégia, jogadas ensaiadas, jogadas individuais... Agora, dizer que falta liderança, isso jamais! Em nenhum quesito – nem dentro nem fora dos gramados.
Felipão construiu um elenco que se gosta muito, de pessoas que se apoiam, que torcem umas pelas outras. Dentro de campo, Thiago Silva conquistou a braçadeira de capitão - não foi uma imposição - e é respeitado, admirado, seguido. Isso é para poucos! Demonstrar medo, nervosismo, reconhecer que errou. Isso sim é ser líder!
Por isso, antes de criticar Thiago Silva, muitos líderes deveriam refletir sobre a sua liderança e constatar que têm muito a aprender com o capitão, com o técnico e com todo o elenco da nossa seleção.
* Autor: Alexandre Prates é especialista em liderança, desenvolvimento humano e performance organizacional. É também Master Coach, palestrante, sócio-fundador do ICA (Instituto de Coaching Aplicado) e sócio do Grupo Alquimia, consultoria especializada em franquias. Escreveu o livro "A Reinvenção do Profissional - Tendências Comportamentais do Profissional do Futuro" e é autor da metodologia de coaching "Inteligência Potencial".
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