Ninon de Lenclos, nascida no ano de 1620, era uma cobiçada cortesã. Com o seu espírito bem mais sedutor que o seu rosto, inspirou as mais célebres paixões durante dois reinados: no de Luiz XIII e no de Luiz XIV. Por ser no momento a mais notável das mulheres bonitas, Ninon ditou moda, das mais extravagantes, sem mesmo pretender criar coisa alguma.
Certa vez, estava ela em grande fase amorosa com um gentil cavalheiro, que, por sua vez, morria de amores por ela. O pobre homem, porém, não tinha um minuto de tranquilidade. Por causa de sua tortura ciumenta, veio-lhe uma febre altíssima. Ninon, ao ver tão doente o homem que ela então amava intensamente, como prova de amor, de dedicação e de sacrifício, cortou os cabelos, ficando com os cachinhos encaracolados caindo pela nuca, pela testa e pelas orelhas.
Passado um tempo, o namorado de Ninon curou-se naturalmente da febre, mas que iria ela fazer agora, com os cabelos cortados, coisa gravíssima naqueles tempos de pernas e pirâmides sob a forma de penteado? Só um recurso: entrar para o convento, pelo menos até que voltassem os cabelos ao comprimento necessário e decente. E ficou assentado que Ninon entraria para o convento. A rainha da França, Ana d'Austria, então, decidiu que o convento fosse também o lugar das Raparigas Arrependidas, ao que Ninon se recusou, por não se considerar "rapariga", nem arrependida. Ninon resolveu, por fim, não entrar em convento algum.
Certa de sua decisão, Ninon ofereceu uma festa suntuosa, para a qual convidou o que havia de mais requintado no mundo aristocrata e intelectual da Paris de Richelieu. E não faltaram à festa nem Moliére, nem Boileau, nem La Rochefoucauld. Ninon apareceu aos convidados, então, com os seus cachos negligentemente dependurados, desordenados e foi um grande acontecimento. As mulheres acharam lindo o novo penteado, e toda Paris adaptou a "coiffure à Ninon".
E de tal maneira se impunha à moda, a bela Ninon, que, por fim, tudo se usava à Ninon: pós de arroz, "chiffons" mangas, vestidos… Teve origem então o penteado de cachos caídos na nuca, descuidadamente, moda que durou muitos anos. Até que um dia, uma aventura galante de Luiz XIV modificou o penteado à Ninon.
O rei, como de costume fora caçar javali... (era irônico o rei Sol...) e à sua direita ia a duquesa de Fontanges, fascinante criaturinha que muito encantava o monarca. Eis que um golpe de vento faz voar o chapéu da linda amazona. Ela, ao ver os seus cabelos desmanchados, voando ao vento, vexada com o olhar do rei amoroso, levantou a saia, tirou uma liga e com ela amarrou ao alto da cabeça os seus corações, fazendo uma trunfa altíssima.
O rei maravilhado com todos os movimentos da Duquezinha, apaixonou-se definitivamente, se é que ainda não estava totalmente apaixonado. As damas todas que se achavam na mesma caçada adaptaram logo o penteado improvisado pela bela favorita. E Paris toda passou a usar o penteado "fontages", que permaneceu no programa, durante uns trinta anos, até que nova estrela brilhou no horizonte caprichoso da moda.
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Por Silvana Teixeira.
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