Existe um dito na pecuária de corte, o qual afirma que "o olho do dono é que engorda o boi". Este ditado, lógico, não se sustenta diante de uma análise racional. Qualquer grande empresário sabe que uma equipe de bons diretores e gerentes, pode levar um empreendimento ao sucesso. Num outro extremo, a pecuária brasileira apresenta uma faceta tão condenável quanto este ditado centralizador. Boa parte dos fazendeiros ou sitiantes não encara e/ou não administra sua propriedade como um negócio.
A Senhora Muntaha Dagher, do sítio Shamballah - tema de um dos nossos mais recentes lançamentos em vídeo - nos ensinou uma lição importantíssima sobre isso, fazendo um paralelo interessante: se o dono de uma loja comercial não comparece para trabalhar diariamente em seu estabelecimento, ou sua empresa está fadada ao fracasso, ou ele tem um gerente motivado a administrar e manter o empreendimento lucrativo.
Como é possível, em 12 hectares de terra, produzir 400 mil litros de leite ao ano? Apenas tecnologia? Parece que não.
Dois empregados, treinados e motivados, são importantes neste contexto. Mas, a constante supervisão da Senhora Muntaha, é que viabiliza a produção de 200 mil litros de leite/ano por funcionário, contra 86 mil litros de média no Brasil. Se ela não administrasse com competência, certamente teria cinco ou mais empregados: pagaria menos por pessoa, mas, muito mais no total.
A mortalidade de bezerros, é outro exemplo típico, que reforça esta argumentação a favor da presença do "olho do dono". Curar o umbigo do bezerro, e oferecer colostro após o nascimento, parece fácil de fazer. O problema está na cultura e motivação do responsável pelo trabalho. E no gerente, que só descobre o mal feito, quando o bezerro está morto.
E com relação à qualidade do leite? Enquanto o ordenhador do sítio Shamballah, usa luvas descartáveis em seu trabalho, na fazenda vizinha, o retireiro limpa as mãos na barriga e no rabo da vaca, e lubrifica as tetas com um pouco de leite tirado do balde, com estas mesmas mãos. "O que os olhos não vêm o coração não sente", muitos podem pensar. Mas, com certeza, os equipamentos de contagem de células somáticas, cada vez mais presentes nos laticínios, vão perceber a diferença entre os leites produzidos nas duas propriedades. E, com certeza, a remuneração em breve será diferenciada.
Bezerros com umbigos infeccionados e acometidos por diarréias passam a ser coisa que não assusta; o piso do depósito coberto de ração desperdiçada já faz parte da rotina; as perdas de alimentos e medicamentos são responsabilidade de ninguém, e tornaram-se normais; a falta de higiene na ordenha ou nem é notada, ou se justifica pelo aparente menor custo de produção. Maus costumes que tornaram-se práticas corriqueiras, parte da cultura até mesmo do proprietário.
Todo mundo acha que o segredo de Shamballah está na proprietária, a Senhora Muntaha. Alguém já disse que seria necessária uma população de "Muntahas" para mudar a pecuária leiteira do Brasil, o que torna este problema insolúvel. Porque poucos se propõem assumir o ônus de abrir a porteira da fazenda pela manhã e fechar à noite, depois da saída do último empregado. Ou de selecionar, treinar, pagar e supervisionar o trabalho de um bom gerente, armado de softwares de controle e planilhas variadas.
Não foram índices zootécnicos maravilhosos que levaram o CPT - Centro de Produções Técnicas a fazer um filme sobre o sítio Shamballah. Foram, sim, as técnicas, a disciplina, a competência, o gerenciamento, a dedicação, enfim, a maneira de trabalhar nesta propriedade.
Muntaha Dagher, do sítio Shamballah, diz que "só vai conseguir permanecer na atividade quem trabalhar em cima de produtividade e qualidade". Só vivendo o dia a dia do sítio, para saber como ela consegue atingir estes dois objetivos.
Marcos Orlando de Oliveira
Diretor Geral de Produção do CPT.
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