A grande maioria das pessoas afirma que trânsito é um problema! E é assim tratado, pois parece que o tema não é discutido amplamente, pela sociedade. Como problema, restringe-se a uma discussão pequena, permanecendo na esfera particular. Em rodas de amigos, o trânsito é muitas vezes motivo para justificar suas falhas, seus atrasos, seus descompromissos, suas adiadas idas ao dentista ou ao médico. Trânsito principalmente nos grandes centros tem servido de desculpa para tudo.
Segundo Aparecida Pereira Pires, professor do Curso a Distância CPT Trânsito na Educação - Infantil e Fundamental I, “Muitas pessoas já mudaram de dentista, de médico, de cabeleireiro, de pediatra dos filhos, de escola das crianças, de veterinário dos seus animais, por conta da distância, do trânsito. Só não dá para mudar de emprego. Ah! Se pudesse! E se mudar de casa? Será que resolve? Essas mudanças, por mais simples que elas sejam, alteram o trânsito”. Esses problemas são fáceis de administrar? Quem consegue?
O trânsito continua sendo um dos grandes vilões da história, ou seja, caracterizado como um problema. Muitos dos problemas que o trânsito apresenta estão há décadas sem solução. O que é afeto ao trânsito? Tudo! Comércio, moradia, escola, emprego, lazer, hospitais, empresas, veículos, pessoas; tudo está ligado ao uso do solo, que, por sua vez, é malha das atividades por onde se deslocam as pessoas. Essa circulação, na maioria das vezes, ocorreu de maneira crescente, desordenada e mal planejada.
As cidades foram crescendo rápido demais, muitas sem planejamento. As ruas e avenidas, ao serem asfaltadas, foram se tornando estímulo à velocidade. A frota de veículos aumentou vertiginosamente, invadiu as cidades, pressionando o viário de tal forma, que se tornou um inimigo do pedestre, ao compartilhar o espaço público. O pedestre, por sua vez, também se ocupa do viário de forma inadequada, gerando conflitos para sua mobilidade. Tudo parece muito difícil: estacionar um carro, atravessar uma rua, entrar e sair de carro da própria residência, cruzar uma grande avenida sem ser atropelado, entrar e sair de uma escola, e até mesmo caminhar pelas calçadas.
Sim, o nosso caminhar compõe o trânsito. O trânsito é inerente ao ser humano. O homem entra em contato com ele desde o seu nascimento. O trânsito é a forma mais antiga de circulação de pessoas e de mercadorias. Através dos tempos, o homem se apropriou de diferentes condições de circulação, sendo ora motorista, ciclista, passageiro, entretanto, prioritariamente pedestre, utilizando-se de alguns meios de transportes como carroça, carro puxado a boi, automóvel, trem, ônibus. Toda essa circulação constrói o trânsito, ligando cidades, diminuindo distâncias, aproximando pessoas, movimentando a economia. E tudo isso é possível pela movimentação do ser humano. Se pensarmos nos conflitos gerados no trânsito, não podemos nos esquecer de que, na sua grande maioria, são causados pelo homem.
O trânsito é feito por pessoas que saem de casa, diariamente, para trabalhar, estudar, passear e se divertir. E é no espaço público que se nota o comportamento inadequado dos usuários. Agridem-se verbalmente, gritam, dirigem alcoolizados, violentam a lei, atropelam, matam e se matam. O espaço viário transformou-se em palco de tragédias. Enquanto o trânsito for visto como fonte de mazelas, como as estatísticas nos mostram, continuará sendo um problema na vida de cada cidadão. Entretanto, se compreendermos o trânsito como uma questão social, refletindo sobre os direitos e deveres de cada cidadão, e pensarmos nos rumos que queremos dar à sociedade, quanto aos valores culturais que se deseja cultivar, poderemos transformá-lo num grande projeto de vida, onde todos se beneficiarão dele. Todos nós somos e construímos o trânsito. Nós somos o trânsito!
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Por Silvana Teixeira.
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