
1940, interior de Pernambuco. Criado por um caçador, Sombra abandona a vida reclusa no meio do mato para procurar seu verdadeiro pai na cidade grande. Descobre que ele foi um matador envolvido no comércio de pedras preciosas e decide seguir seus passos. O território é sem lei e matar está em seu sangue.
Entre os anos 50 e 70, o cinema brasileiro viu crescer um gênero cinematográfico muito peculiar, o nordestern. Comumente conhecimento como Cinema de Cangaço, esse gênero passa a ser desenvolvido a partir do gênero western dos Estados Unidos, que também passa a ser reinventado a partir da leitura de cineastas em diversos países. No Brasil - na forma de nordestern - inúmeras obras aproximam-se das convenções formais que caracterizam esse grande gênero cinematográfico, transformando-os em novas possibilidades e, assim como no western "clássico" sai em busca da identidade nacional, a que muitos chamam de "brasilidade".
O Matador, primeiro filme original e brasileiro da Netflix dirigido por Marcelo Galvão, resgata todas essas características - criando um momento de extrema importância para o cinema nacional. Tendo em vista que as produções que perpassam o Nordeste e o cangaço tiveram uma queda desde os tempos dourados do nordestern.
Inspirada na obra de "Grande Sertão: veredas", de João Guimarães Rosa, o filme tem um belíssima ambientação, que se aproxima dos clássicos faroestes. Seja no sertão nordestino - extremamente seco - seja nas cidades do interior, com um arquitetura particularmente modesta e dona de população que parece já ter se acostumado com a violência.
Numa terra sem leis, as reações não parecem exageradas quando alguém atira. E tanto Diogo Morgado quanto Etienne Chicot entregam personagens consistentes, mesmo ainda caricatos. O primeiro como um pistoleiro selvagem; nem herói, vilão ou anti-herói, Cabeleira é uma consequência do ambiente onde cresceu. E se ora o público torce por ele, ora sente revolta, pois o ator consegue ir de um ponto ao outro dessa inconsistência moral que o personagem pede. Já Chicot cai perfeitamente bem como um magnata que manda executar qualquer um que se oponha a ele. Não há oscilações no caráter do francês, apenas atitudes típicas de alguém muito rico naquela época, mas falta a necessária coragem para resolver as situações, a não ser quando corre forte risco de morte.
O Matador é apenas a primeira experiência nacional, em longa metragem feita pela Netflix, mas já mostra um conceito extremamente interessante e que merecia um filme como este.
O Matador: Nov/17.
Nacionalidade: Brasil.
Gênero: Faroeste, Drama.
Direção: Marcelo Galvão.
Roteiro: Marcelo Galvão.
Elenco: Diogo Morgado, Etienne Chicot, Nill Marcondes, Maria de Medeiros, Deto Montenegro, Paulo Gorgulho, Marat Descartes, Mel Lisboa.
Por Ana Carolina dos Santos.
Fontes: Cinema com Rapadura, Cine Set, Omelete, Adoro Cinema.
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