A alfabetização é um processo no qual as crianças precisam resolver problemas de natureza lógica até chegarem a compreender de que forma a escrita alfabética em português representa a linguagem
A partir do momento em que a criança fala e se comunica com adultos ou outras crianças, ela está se expressando por meio da linguagem oral. No entanto, as diversas instituições concebem a linguagem e a maneira como as crianças aprendem de formas bem distintas. Umas consideram o aprendizado da linguagem oral como um processo natural, que ocorre em função da maturação biológica. Outras, ao contrário, concordam que a intervenção direta do adulto é necessária e determinante para a aprendizagem da criança.
Linguagem como meio interação social
Atualmente, novas vertentes, baseadas na análise de produções das crianças e das práticas correntes, têm apontado novas direções no que se refere ao ensino e à aprendizagem da linguagem oral e escrita, considerando a perspectiva da criança que aprende. Com base na aquisição do conhecimento pela criança de forma ativa e não receptiva, há uma transformação substancial na forma de compreender como uma criança aprende a falar, a ler e a escrever.
Por meio da linguagem oral, a criança se comunica e expressa os seus pensamentos, influenciando outras crianças e estabelecendo relações umas com as outras. Tudo é contextualizado, ou seja, as palavras só têm sentido em enunciados e textos que significam e são significados por situações. A linguagem não é apenas vocabulário, lista de palavras ou sentenças soltas, mas sim um meio eficaz de comunicação e interação social.
Além disso, a linguagem é dinâmica, com variantes regionais, diferenças nos graus de formalidade e nas convenções do que se pode e deve falar em determinadas situações comunicativas. Quanto mais as crianças puderem falar em situações diferentes, como contar o que lhes aconteceu em casa, contar histórias, dar um recado, explicar um jogo ou pedir uma informação, mais poderão desenvolver suas capacidades comunicativas de maneira significativa.
Em suma, a alfabetização não é o desenvolvimento de capacidades relacionadas à percepção, memorização e treino de um conjunto de habilidades sensório-motoras, mas sim um processo no qual as crianças precisam resolver problemas de natureza lógica até chegarem a compreender de que forma a escrita alfabética em português representa a linguagem. Com isso, as crianças certamente aprenderão a escrever e a ler por si mesmas.
Nessa perspectiva, a aprendizagem da linguagem escrita é concebida como:
- A compreensão de um sistema de representação e não somente como a aquisição de um código de transcrição da fala;
- Um aprendizado que coloca diversas questões de ordem conceitual, e não somente perceptivo-motoras, para a criança;
- Um processo de construção de conhecimento pelas crianças por meio de práticas que têm como ponto de partida e de chegada o uso da linguagem e a participação nas diversas práticas sociais de escrita.
Desenvolvimento da linguagem oral
Desde os primeiros dias, o bebê emite sons articulados que revela o seu esforço para se comunicar com os outros. Estes os interpretam, dando sentido à comunicação do bebê. Quando os adultos falam com o bebê, eles tendem a utilizar uma linguagem simples, breve e repetitiva, que facilita o desenvolvimento da linguagem e da comunicação. Por outro lado, às vezes eles o expõem à linguagem oral em toda sua complexidade, como por exemplo, ao trocar as fraldas, o adulto fala: “Você está molhado? Eu vou te limpar, trocar a fralda e você vai ficar sequinho e gostoso!”.
Além da fala, a comunicação pode acontecer por gestos, sinais e até linguagem corporal, que dão significado e apoiam a linguagem oral dos bebês. Dessa forma, a criança aprende a verbalizar por meio da apropriação da fala do outro. Esse processo refere-se à repetição, pela criança, de fragmentos da fala do adulto ou de outras crianças, utilizados para resolver problemas em função de diferentes necessidades e contextos nos quais se encontre.
Por exemplo, um bebê de sete meses pode engatinhar em direção a uma tomada e, ao chegar perto dela, ainda que demonstre vontade de tocá-la, pode apontar para ela e menear a cabeça expressando assim, à sua maneira, a fala do adulto. Gradativamente, o bebê passa a incorporar a palavra “não” associada a essa ação, que pode significar um conjunto de ideias como: não se pode mexer na tomada; mexer aí é perigoso; entre outras.
Com o passar do tempo, a criança se expressa melhor, dizendo o que gosta e o que não gosta, o que quer e o que não quer fazer e a fala passa a ocupar um lugar privilegiado como instrumento de comunicação. Esse desenvolvimento vai ampliando os recursos intelectuais, porém as falas infantis são, ainda, produto de uma perspectiva muito particular, de um modo próprio de ver o mundo.
Desenvolvimento da linguagem escrita
Em nossa sociedade, desde os primeiros dias de vida, a criança está exposta ao mundo das letras, em permanente contato com a linguagem escrita. Dessa forma a criança passa a descobrir o aspecto funcional da comunicação escrita, desenvolvendo interesse e curiosidade por essa linguagem. Diante do ambiente de letramento em que vivem, as crianças podem fazer, a partir de dois ou três anos de idade, uma série de perguntas, como “O que está escrito aqui?”, ou “O que isto quer dizer?”, indicando sua reflexão sobre a função e o significado da escrita, ao perceberem que ela representa algo.
Muitas crianças utilizam-se de livros, revistas, jornais, gibis, rótulos, entre outros, para “ler” o que está escrito
No entanto, para aprender a escrever, a criança terá de lidar com dois processos de aprendizagem paralelos: o que a escrita representa e como. Além disso, a criança deve ter contato com os mais diversos textos presentes em seu cotidiano, para que possa construir sua capacidade de ler, bem como desenvolver a capacidade de escrever autonomamente. Muitas crianças utilizam-se de livros, revistas, jornais, gibis, rótulos, entre outros, para “ler” o que está escrito. Não é raro observar crianças muito pequenas, que têm contato com material escrito, folhear um livro e emitir sons e fazer gestos como se estivessem lendo. Ou seja, as crianças elaboram uma série de ideias e hipóteses provisórias antes de compreender o sistema escrito em toda sua complexidade.
Quando estão começando a aprender a escrever as crianças cometem alguns erros. No entanto, eles têm um importante papel no processo de ensino, já que informam o adulto sobre o modo próprio de as crianças pensarem naquele momento. Por exemplo, se algumas crianças pensam que não é possível escrever com menos de três letras, e pensam, ao mesmo tempo, que para escrever “gato” é necessário duas letras, estabelecendo uma equivalência com as duas sílabas da palavra gato, precisam resolver essa contradição criando uma forma de grafar que acomode a contradição enquanto ainda não é possível ultrapassá-la. Assim, as crianças aprendem a produzir textos antes mesmo de saber grafá-los de maneira convencional.
Por Andréa Oliveira
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Comentários
Ana Flávia Batista
7 de set. de 2017Gostaria de saber como posso fazer a citação de um trecho escrito acima, tudo citado a cima foi retirado do RCN ?
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11 de set. de 2017Olá, Ana Flávia.
Agradecemos sua visita e comentário em nosso site. As formas corretas para referenciar e citar são:
Referência: TÉCNICAS, Centro de Produções; OLIVEIRA, Andréa. RCN para a educação infantil - construção da linguagem oral e escrita: No Referencial Curricular Nacional, a linguagem não é apenas vocabulário, lista de palavras ou sentenças , mas sim um meio eficaz de comunicação. 2013. Disponível em: <https://www.cpt.com.br/cursos-educacao-infantil/artigos/rcn-para-a-educacao-infantil-construcao-da-linguagem-oral-e-escrita>. Acesso em: (DATA QUE VOCÊ ACESSOU).
Citação com autor incluído no texto: Técnicas e Oliveira (2013)
Citação com autor não incluído no texto: (TÉCNICAS; OLIVEIRA, 2013)
Atenciosamente,
Renato Rodrigues.
Andrea
8 de set. de 2014Muito bom!
Resposta do Portal Cursos CPT
8 de set. de 2014Olá, Andrea!
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Ficamos felizes que o artigo sobre RCN tenha lhe auxiliado.
Atenciosamente,
Ana Carolina dos Santos
ANA SOUSA
11 de abr. de 2013Necessito deste conteúdo para realizar um trabalho.
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12 de abr. de 2013Olá, Ana!
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