Geleia real: colheita e processamento

Obter produtos da colmeia, como o mel, a própolis e a geleia real depende de dois fatores básicos: o planejamento e a instalação do apiário de forma racional e o uso de tecnologias de manejo adequadas, para cada um desses produtos, para que o empreendimento apícola tenha rentabilidade.

O maior importador de mel do Brasil são os Estados Unidos, que ficaram com pouco mais de 5.000 t, estando em segundo lugar a Alemanha, com 4.800 t.

Até o ano de 2001, existiam no Brasil pelo menos 80.000 apicultores, a maioria microprodutores informais. Nesse mesmo ano, havia 1.500 empresas ligadas à atividade apícola, registradas no país, oferecendo pelo menos 10 mil empregos diretos. Entretanto, não existem estimativas sobre o percentual de apicultores que se dedicam, esporadicamente ou profissionalmente, à produção de pólen e de geleia real.

“Esses dois produtos não acompanharam o crescimento do mercado de mel, mas continuam como produtos de alto valor no mercado, cuja produção não atende à demanda”, afirmam os professores Paulo Sérgio Cavalcanti Costa e Etelvina Conceição Almeida da Silva, do curso Produção de Pólen e Geleia Real, elaborado pelo CPT – Centro de Produções Técnicas.

De qualquer maneira, aqueles que pretendem se iniciar nessa atividade, seja como complemento à atividade apícola já desenvolvida, seja como possível atividade principal, terão de levar em conta alguns fatores importantes.

Um deles é o correto planejamento das instalações para que se racionalize os gastos de implantação, permitindo que, posteriormente, o apiário seja produtivo. Além disso, o produtor deverá estar atento à evolução do mercado, que é muito dinâmico.

Geleia Real

- Colheita  

A coleta da geleia real, ainda no apiário, tem de ser executada mediante cuidados com a higiene. Após a retirada da colmeia, sejam as realeiras produzidas pelo método de puxada natural, sejam os quadros porta-cúpulas, ambos deverão ser colocados em uma caixa plástica para transporte, esta previamente higienizada. Após a retirada das colmeias, o material deve ser levado o mais rápido possível para o laboratório onde será feita a extração.

- Extração

A geleia real pode ser extraída das realeiras ou dos quadros porta-cúpulas com uma espátula de aço inoxidável, passada contra a parede da célula, raspando-se o material. Não devem sobrar restos de geleia nas cúpulas, devido a seu alto valor. Porém, deve-se cuidar para não raspar com muita força, o que acaba fazendo com que porções de cera sejam recolhidas com a geleia, diminuindo sua qualidade.

Outra alternativa para a extração é o uso de uma pequena bomba, semelhante às bombas de sucção, utilizadas em consultórios dentários. Esse equipamento gera pressão negativa em um tubo de coleta, que, por sua vez, passa por um recipiente, onde a geleia retirada é depositada. É aconselhável aos apiários especializados em produção de geleia real onde há grande quantidade do produto a ser extraído diariamente.

- Armazenamento  

No processamento e armazenamento da geleia real, é preciso levar em conta que a atividade biológica desse produto é instável e sua qualidade se perde com o tempo de armazenamento. Luz, ar, temperatura, umidade e reações químicas, com recipientes ou outros produtos relacionados à colheita e ao processamento, podem destruir determinados componentes ativos da geleia.

O oxigênio presente no ar, por exemplo, pode provocar a oxidação, destruindo vários de seus princípios ativos. O calor também é muito danoso, o que determina que, mesmo a uma temperatura de três a cinco graus centígrados positivos, a geleia perca suas atividades biológicas em um prazo que pode variar de 12 a 24 horas.

Por tudo isso, a temperatura ideal de estocagem é de – 18ºC. Além disso, o recipiente deve ser mantido fechado e ao abrigo da luz, podendo, inclusive, envolver os recipientes com algum tipo de revestimento opaco, como o papel laminado, por exemplo.

- Testes de qualidade  

É possível verificar se a geleia mantém suas qualidades por meio de dois testes. O primeiro deles é o organoléptico, em que se deve dar atenção a alguns aspectos importantes: o sabor deve ser ácido, picante, doce e adstringente. Em termos de aparência, verifica-se que tem brilho, é ligeiramente pegajosa e tem consistência pastosa. Já o teste enzimático, por exemplo, feito em laboratório, verifica a atividade biológica, ao medir a atividade de uma de suas enzimas, a glicose-oxidase.

A pureza da geleia também pode ser testada em laboratório especializado. O teste de alcalinidade verifica falsificação com óleo, gorduras, clara de ovo ou lactoalbumina. O teste do Iodo, por sua vez, verifica a presença de amido.

- Comercialização 

A produção de geleia real da China passa de 1.000 t anuais, 30% desse total é exportado e o restante consumido, internamente, na produção de medicamentos e alimentos especiais. Centenas de indústrias de alimentos processam produtos que têm a geleia real em sua composição. Da mesma maneira, na Rússia, a indústria farmacêutica usa, intensamente, a geleia. No Brasil, não existem dados de pesquisas sobre o assunto. O uso ainda é muito pequeno e restrito a pequenos círculos de consumidores que conhecem muito bem esse produto.

- Uso da geleia real  

Por ser um produto ainda pouco conhecido, o apicultor que comercializa a geleia real deve orientar os consumidores sobre as quantidades diárias a serem consumidas. Por via oral, devem ser consumidos entre meio e um grama, duas vezes ao dia, antes da refeição matinal e do jantar. O produto pode ser utilizado, enquanto ainda está congelado. A porção a ser consumida é colocada sob a língua para que ocorra a absorção sublingual. 

Da mesma forma, é possível fazer o uso externo da geleia, o que ainda não é muito comum no Brasil. Entretanto, cosméticos que utilizam a geleia real em sua composição têm se mostrado eficazes na redução de rugas e manchas de pele.

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Por Andréa Oliveira