A pecuária leiteira nas regiões tropicais do Brasil vive em crise crônica. Os produtores se queixam da insuficiente rentabilidade obtida e não raro põem a culpa no baixo preço pago pelas indústrias. Para resolver esse impasse, foram propostos diversos modelos tecnológicos, todos eles ligados ao uso intensivo de insumos. Os resultados não foram compensadores sob o ponto de vista econômico, apesar do aumento de produção. A elevação dos custos e a demanda de altos investimentos esfriaram o ânimo dos produtores e a situação não se modificou.
Barbosa & Marques S.A., um dos mais antigos laticínios mineiros, trouxe para os trópicos o Pastoreio Voisin, completamente fora de cogitação pela pesquisa oficial e só mencionado nas universidades com, no máximo, meras frases de cortesia. Era a única das alternativas ainda não colocadas à consideração dos produtores, um tanto desconfiados e descrentes.
Como portador da mensagem, durante a Expoagro de Governador Valadares, realizada em 1998 pela União Ruralista Rio Doce, traduzi os principais objetivos dos produtores de leite: a) trabalhar menos como garçom de vaca e faxineiro de estábulo; b) não degradar para não reformar pastagens; c) aumentar a produção; d) diminuir os custos; e) aumentar a rentabilidade; f) comercializar com confiança e tranqüilidade; g) não viver descontente e amargurado; h) usufruir de vida digna e confortável. Os próprios produtores fixaram suas metas. Estariam satisfeitos se alcançassem produção de 7 mil litros de leite e uma renda líquida de R$ 700/ha/ano.
Para que isso seja possível, o pastoreio deveria atender quatro requisitos básicos, os dois primeiros enunciados pelo neozelandês Smetham e os dois últimos pelo autor deste artigo: a) produzir a máxima quantidade possível de massa verde por hectare; b) propiciar que a máxima quantidade de massa verde chegue ao trato digestório do bovino; c) reduzir ao máximo o custo da forragem ingerida; d) manter a perenidade produtiva das pastagens.
Dois anos depois de iniciado o Programa, podem ser mostrados os resultados técnicos e econômicos dos oito produtores pioneiros. A produção anual média de leite que era de 1.636 (de 1.080 a 2.574) passou para 3.163 litros/ha (de 1762 a 4.415). O incremento médio foi de 1.527 litros de leite/ha/ano ou 93%. A produção média por vaca/dia passou de 6,5 litros para 10,8 litros (66% de incremento). O leite produzido com alimento servido no cocho, que era de 40% sobre o total, baixou para 19%. O pastoreio que era responsável por 60% do leite produzido passou para 81%. O custo de produção médio anual de R$ 0,29 baixou para R$ 0,22/litro, 24% ou R$ 0,07 a menos. Com um aumento de 16% no preço do leite pago ao produtor, a renda líquida por hectare passou de R$ 114 para R$506, com um incremento de R$ 392 ou 243%. Os três produtores mais destacados já passaram da meta financeira de uma renda líquida de R$700/ha/ano.
O investimento médio para a montagem de um projeto de 50 ha foi da ordem (R$ 171/ha), entre eletrificadores, cercas elétricas, bebedouros, sombreamentos de áreas de lazer e assistência técnica. A manutenção de cercas, consertos de máquinas e instalações foi de R$ 1.382. As roçadas dos piquetes, tratorizadas e manuais, consumiram R$ 800 nos 50 ha. O total de R$ 10.752 foi amplamente coberto pelos R$ 19.600 de apurados pelo acréscimo na receita e na diminuição dos custos. Em um ano, o projeto se pagou e ainda houve uma sobra de R$ 8.848.
Os produtores que ingressaram no programa não têm do que se queixar da atividade leiteira e não se importam tanto com o preço do leite, regulado pelo mercado e sobre o qual têm tão pouca autoridade. Preferem se concentrar sobre o processo produtivo no interior de suas propriedades, onde têm autoridade total e de onde podem tirar a máxima lucratividade.
O curso "Pastoreio Voisin para Gado de Leite", produzido pelo CPT - Centro de Produções Técnicas, sob a coordenação técnica do professor Humberto Sorio, mostra as técnicas aplicadas nessas fazendas detalhadamente.
Prof. Humberto Sorio
Universidade de Passo Fundo – RS.
Especialista em Pastoreio Voisin
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