A capacidade produtiva se traduz em poder de competição e isso explica o aumento das vendas brasileiras de alimentos para todos os mercados.
A comida dos brasileiros é uma das mais baratas do mundo e isso se deve não a controles de preços ou a quaisquer truques do governo, mas aos ganhos de eficiência na produção, acumulados durante muitos anos. A capacidade produtiva se traduz em poder de competição e isso explica o aumento das vendas brasileiras de alimentos para todos os mercados.
Um novo estudo de economistas da FGV apresenta um balanço das lavouras de grãos, oleaginosas e fibras, sendo as mais importantes as de arroz, feijão, milho, soja, trigo e algodão. A principal novidade mostrada no trabalho é o aumento da participação das lavouras e da silvicultura no valor bruto da produção agropecuária.
Essa participação cresceu de 45% para 75% entre o censo rural de 1995-96 e o de 2006. A da pecuária bovina diminuiu de 38%, para 20%. O peso do item "outros" passou de 19% para 5%. A mudança é explicável pela combinação de dois fatores, a variação do produto físico e a dos preços nacionais e internacionais, associada em grande parte à demanda cada vez maior de grandes mercados emergentes, como a China.
Mas o estudo mostra, também, uma considerável diferença entre os ganhos de eficiência das lavouras e os da pecuária, naquele período. Entre as safras de 1995-96 e a de 2005-2006, a área plantada com os produtos analisados aumentou 24,2%, enquanto a produção cresceu 95,9%. Os produtores têm colhido volumes crescentes, expandindo em proporção muito menor a ocupação de terras. Essa tendência continuou nos últimos anos, no período não coberto pela pesquisa. Na safra 2002-2003, foram colhidos 2.805 quilos por hectare plantado com aqueles produtos.
Propriedades exploradas por famílias podem ser altamente eficientes, se as atividades forem apoiadas com financiamento adequado e tecnologia.
Neste ano, 2009-2010, a produção por hectare chegou a 3.100 quilos. Houve um aumento de 19,1% na produção total e uma variação de apenas 7,7% na área plantada. Detalhes como esse são geralmente ignorados ou menosprezados quando se associa a crescente produção agrícola à ocupação crescente de terras e à devastação de florestas e outros biomas. Ignorância e má-fé não são componentes novos do discurso ecologicamente correto.
No período coberto pelo estudo, a produtividade da pecuária cresceu muito menos, segundo tabela do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte, mencionada na pesquisa. A taxa de abate com relação entre os animais abatidos e o total do rebanho passou de 20,2% em 1996 para 20,5% em 2006.
Mas, seria preciso acrescentar três detalhes a esses dados:
1)nos anos 80 a pecuária de corte ganhou produtividade mais velozmente que as lavouras e isso explica o aumento das exportações de carne a partir daquele período. Outras criações, como a de frango, também já haviam se tornado internacionalmente competitivas quando chegaram os anos 90
2)os preços relativos da carne continuaram caindo e isso se refletiu no aumento do consumo. Isso resultou, em parte, da redução do tempo necessário para o abate
3)a pecuária nacional é uma das mais competitivas e barreiras comerciais são o principal obstáculo à expansão das exportações
O novo estudo da FGV confirma a importância das mudanças tecnológicas, em grande parte, produzidas pela Embrapa, e da modernização da agropecuária. Mostra, também, a perda de participação da chamada agricultura familiar nas produções analisadas. Mas o próprio conceito de agricultura familiar tem utilidade limitada para a análise do desenvolvimento da agropecuária. Propriedades exploradas por famílias podem ser altamente eficientes, se as atividades forem apoiadas com financiamento adequado e tecnologia.
As propriedades ligadas ao agronegócio, por meio de contratos com indústrias, por exemplo, são uma prova bem conhecida desse fato. Falatório ideológico e distribuição de dinheiro para grupos orientados politicamente produzem muito ruído, mas seus efeitos são muito pequenos, quando medidos em termos de toneladas de alimentos. A agropecuária continua sendo a principal fonte do superávit comercial brasileiro. De janeiro a junho, o agronegócio acumulou um excedente de US$ 28,9 bilhões, 7,2% maior que o de um ano antes.
Editorial publicado dia 30 de julho, no jornal O Estado de São Paulo.
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