Produção de mandioca: mudas de boa qualidade e método de propagação rápido

A mandioca é uma planta muito versátil e de ampla utilização na alimentação humana, animal e para uso na indústria. De fácil adaptação, ela é cultivada em todos os estados brasileiros e quando comparada a outros cultivos, apresenta uma série de vantagens.

Fácil propagação; elevada tolerância a longas estiagens; rendimentos satisfatórios mesmo em solos de baixa fertilidade; pouca exigência em insumos modernos; potencial resistência ou tolerância a pragas e doenças; elevado teor de amido nas raízes; boas perspectivas de mecanização, do plantio à colheita, sem grandes perdas na matéria seca, são apenas algumas delas.

O sucesso da lavoura, no entanto, depende, em grande parte, da utilização de mudas de boa qualidade. E tem mais: "permite consórcio com inúmeras plantas alimentícias e industriais", explica a Prof.ª Dr.ª Marney Pascoli Cereda, do Curso CPT Produção de Mandioca.

Mudas de mandioca

A qualidade das mudas afeta diretamente a capacidade de brotação, o enraizamento e a resistência a doenças da futura lavoura. Sendo assim, para obtenção das mudas é necessário selecionar plantas com excelentes características, orientando-se pelos critérios a seguir:

- As plantas devem ser sadias e maduras, sem sintomas de doenças, sem pragas e com ótimo desenvolvimento vegetativo;
- Devem ter idade entre 8 e 14 meses;
- As plantas devem ser produtivas, ou seja, com grande número de raízes, pois a produtividade da mandioca depende do número de raízes, esta é uma característica genética das variedades;
- As melhores ramas para fazer mudas são as provenientes da haste principal da planta e do terço central desta.
- No momento da retirada das mudas, as brotações e as raízes devem ser cortadas, mas as ramas devem ficar inteiras, sendo feito o corte em estacas menores só na hora do plantio.

Materiais para o trabalho com as mudas

Os materiais necessários para o trabalho com as mudas são uma serra de metal para cortar as estacas, estilete ou gilete para cortar os brotos, produtos químicos para a desinfecção do substrato, ferramentas e estacas, vasilhas (baldes) para tratamento das estacas e frascos ou vasilhames de boca larga que são utilizados para enraizamento.

Método de propagação rápida para a formação de mudas

1- O primeiro passo é esterilizar o solo, utilizado como substrato na câmara de propagação. Para isso, utiliza-se formol a 10%, em uma quantidade de 10 litros por câmara. Cobre-se a câmara com um plástico durante cinco dias, tira-se o plástico e espera-se mais cinco dias para se fazer o plantio das estacas. O substrato deve apresentar alta fertilidade. Caso necessário, deve ser aplicado um fertilizante adequado, para assegurar uma boa brotação das estacas.

2- Uma vez preparada a câmara, inicia-se o processo de obtenção das manivas. No campo, devem ser selecionadas plantas sadias e maduras, com pelo menos oito meses de idade, retirando os melhores caules. Esses são levados para a área destinada à multiplicação rápida e cortados em estacas com duas gemas ou nós com uma serra previamente desinfetada. A serra deve ser desinfetada antes de cada corte, com hipoclorito de sódio, permanganato de potássio ou álcool.

3- As estacas são tratadas em submersão com solução de fungicida e inseticida usando 3 g de cada produto por litro de água. Depois, são secadas ao ar. A seguir, as estacas são plantadas na posição horizontal, à profundidade de aproximadamente 1 cm e cobertas ligeiramente com o substrato. Deve-se regá-las após o plantio. A posição correta das estacas é aquela em que a distância menor entre as gemas deve ficar para cima.

4- Plantadas as estacas, o teto é colocado de forma que suas extremidades fiquem assentadas na parte central dos blocos. Os blocos devem permanecer sempre cheios de água, para favorecer uma boa evaporação e, dessa forma, uma alta umidade relativa no interior da câmara. Em locais ou regiões com alta temperatura e umidade relativa, aconselha-se molhar o canteiro diariamente para evitar o murchamento das plantas. Em épocas muito frias, as estacas demoram mais para produzir os brotos.

5- Após algumas semanas do plantio das estacas, já se disponibiliza grande número de brotos. Quando esses brotos alcançam entre 8 e 10 cm de altura, são cortados a 1 cm do cabo da planta, com estilete ou gilete, ou outro objeto similar, devidamente desinfetado. Normalmente, durante quatro meses após o plantio, uma estaca pode produzir até 10 brotos, mas pode-se considerar que cada estaca continua produzindo brotos, até que suas reservas acabem.

6- A frequência com que são feitos os cortes dos brotos depende do vigor da estaca, da variedade e da temperatura na câmara. Geralmente, uma estaca grossa proporciona mais brotos do que uma estaca fina da mesma variedade. Os brotos normalmente apresentam muitas ramificações, sendo necessário cortar a maioria, deixando somente a principal, para evitar o murchamento. Recomenda-se também cortar o talo dos brotos exatamente abaixo de uma gema, para estimular o enraizamento.

7- Após o corte, deve-se colocar a estaca imediatamente em um recipiente com água fria, previamente fervida, para deter a emissão de látex e evitar a contaminação do broto por patógenos do ar ou a sua oxidação. Esta etapa é muito importante para o êxito do processo. Cessada a perda do látex, o que ocorre em aproximadamente 10 minutos, os brotos são transferidos para outro recipiente com aproximadamente 500 mL de capacidade, contendo cerca de 200 mL de água previamente fervida. Pode-se colocar até 80 brotos por recipiente.

8- Os recipientes com os brotos são colocados imediatamente na câmara de enraizamento, onde a água deve ser periodicamente trocada até que ocorra o enraizamento. Inicialmente, as estacas se conservam verdes, mas após dois a quatro dias as folhas murcham, dando a impressão de estarem mortas. Aproximadamente oito dias após, o broto forma um calo na base e se recupera, dando início ao enraizamento. Passados mais alguns dias, aproximadamente 12, o crescimento radicular é mais visível e surgem novas folhas. Depois de um período de cerca de 20 dias, as raízes estão bem desenvolvidas com novas folhas e podem ser transplantadas para o campo.

9- Os brotos devem ser plantados a uma profundidade que possibilite que quase toda a haste fique dentro do solo. É indispensável manter uma umidade adequada durante as duas primeiras semanas, para bom desenvolvimento das estacas e obtenção de plantas sadias e vigorosas.

Esse processo simples e de baixo custo é mais eficiente em taxa de multiplicação que o sistema tradicional de propagação de mandioca. Pelo sistema tradicional, a partir de uma planta adulta se obtém entre 10 e 20 estacas de tamanho comercial (20 cm), as quais, depois de um ano plantadas no campo, produzem entre 100 e 400 estacas.

Com o método de propagação rápida, desta mesma planta podem ser cortadas 150 estacas de dois nós, produzindo oito brotos cada uma, totalizando 1.200 brotos. Ao final de um ano, as plantas desenvolvidas a partir de cada broto ou estaca podem produzir de 10 a 20 estacas, obtendo-se, assim, um total de 12.000 a 24.000 estacas. A diferença do número de estacas demonstra a eficiência do método de propagação rápida.

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Por Silvana Teixeira.