Desde 1532, quando Martim Afonso de Souza introduziu a cultura da cana-de-açúcar no Brasil, na capitania de São Vicente (hoje São Paulo), a cultura tem proporcionado contribuições econômicas e sociais muito grandes. Já no século XVI e XVII, vivenciou-se o ciclo da cana-de-açúcar, o segundo grande ciclo econômico da história do País.
Atualmente, do ponto de vista econômico, a cana-de-açúcar é utilizada para produzir o açúcar, o álcool, aguardente, forragem, além de subprodutos, como o bagaço usado na alimentação de animais, na queima em caldeiras, o melaço utilizado na alimentação animal, vinhaça, leveduras, dentre outros.
O Brasil possui uma área plantada com cana-de-açúcar de aproximadamente 5,0 milhões de hectares. É o maior produtor mundial de cana-de-açúcar representando cerca de 330 milhões de t/ano, 27% da produção mundial. São Paulo, por sua vez, é o principal Estado produtor totalizando 200 milhões de t/ano, aproximadamente 60% da produção brasileira. Minas Gerais é o quarto Estado produtor, com cerca de 18 milhões de t/ano, 5% da produção nacional.
“No país, produz-se açúcar e álcool o ano todo. No entanto, é importante esclarecer que essa produção não é livre. O governo, com base no consumo interno e na exportação, estabelece cotas para cada usina ou destilaria”, afirma o professor Luiz Antônio de Bastos Andrade, do curso Cultivo de Cana-de-Açúcar para Produção de Cachaça, elaborado pelo CPT – Centro de Produções Técnicas.
A cana-de-açúcar é utilizada para produzir o açúcar, o álcool, aguardente, forragem, além de subprodutos, como o bagaço
Normalmente, em função das condições climáticas, têm-se duas épocas de colheitas e moagem da cana-de-açúcar para produção de açúcar e álcool, no Brasil. No chamado Norte Açucareiro (estados da região nordeste), a safra se inicia em agosto/setembro e vai até março/abril. No Sul Açucareiro (estados produtores do Centro-Sul), o qual Minas Gerais faz parte, a safra se inicia em maio e se estende até novembro/dezembro. São estas também as principais épocas para a produção de aguardente, já que neste período a cana se apresenta madura, o que resulta em melhores rendimentos.
Por constituir uma cultura tradicional, com alta produção por unidade de área, sua expansão torna-se mais do que viável, exigindo uma cultura de implantação e manejo simples e poucos tratos culturais. No entanto, algumas considerações devem ser amplamente observadas para que o resultado final do investimento não seja colocado em cheque. Abaixo algumas delas:
Condições de plantio
Exigências climáticas
Em termos de exigência climática, a cana apresenta uma particularidade importante. Na fase de brotação, perfilhamento e desenvolvimento vegetativo, a cultura é bem exigente em temperatura (maiores que 20ºC, sendo ideal = 25 a 26ºC) e água (período das chuvas, sendo ideal regiões cuja precipitação anual esteja na faixa de 1.000 a 3.000 mm/ano). Já na fase de maturação, deve haver restrição térmica (temperaturas menores que 20ºC) e, ou, hídrica (período de seca), para que ela diminua ou paralise seu desenvolvimento, passando a acumular mais açúcar no colmo.
Particularidades
A planta se desenvolve mais em região de alta intensidade luminosa, de pouco risco de geadas e de baixa incidência de ventos. Por isso, é recomendável evitar o plantio em locais mais baixos, próximos a rios e lagoas e outras áreas sujeitas à geada. Deve-se também evitar exposição do canavial a ventos fortes, que tombam a cana, tornando a sua colheita mais difícil e cara, além de dilacerar as folhas e aumentar a transpiração da planta, aumentando também sua necessidade em água.
Trata-se de uma cultura tradicional, com alta produção por unidade de área, exige implantação e manejo simples e poucos tratos culturais
Épocas de plantio
Visando atender às necessidades climáticas da cultura, na região centro-sul do Brasil, as condições que permitem o plantio sem irrigação ocorrem nas seguintes épocas: janeiro a março, obtendo-se a chamada cana-de-ano-e-meio, e nos meses de outubro a novembro, obtendo-se a cana-de-ano. Na região Nordeste, o plantio se faz em julho e novembro, e a colheita ocorre nos meses de dezembro a maio.
Cana-de-ano-e-meio
A cana-de-ano-e-meio brota e inicia seu desenvolvimento durante três meses favoráveis (jan/fev/mar); permanece em repouso, praticamente sem se desenvolver, de abril a agosto; em seguida, durante sete meses (setembro a abril), vegeta com grande intensidade, para, então, amadurecer nos meses do inverno (três a quatro meses de maturação, em média).
Vantagens da cana-de-ano-e-meio
- Maior número de meses para desenvolvimento vegetativo, garantindo maior produção;
- Melhor distribuição da mão-de-obra (plantio e colheita não coincidem);
- Melhor controle de plantas daninhas;
- Menores problemas fitossanitários;
- Possibilita a rotação com culturas de ciclo curto por ocasião da reforma do canavial (se for usar a mesma área para um novo plantio);
- Melhor escalonamento da colheita, principal vantagem para quem quer operar a unidade produtora de maio a dezembro.
Vantagens da cana de ano
- Produz mais rápido o primeiro corte;
- Melhor brotação das socas, já que o corte é feito perto de condições climáticas mais favoráveis.
Solos
A cana, devido a sua rusticidade, desenvolve-se bem em praticamente todos os tipos de solos. Apenas devem ser evitados, quando possível, os seguintes tipos de solos:
- Com profundidade efetiva menor que 1,0 m;
- Com lençol freático alto;
- Excessivamente argiloso, com má drenagem;
- Excessivamente arenosos; e
- Excessivamente declinosos, lembrando que declives superiores a 15% são limitantes para tratores de pneus e carregadeiras de cana.
Preparo do solo
O preparo do solo para a cultura de cana-de-açúcar deve ser muito bem executado, uma vez que um canavial vai permanecer no mesmo terreno por um período mínimo de quatro anos, sofrendo, neste período, apenas tratos culturais de ação superficial. Cada região, em função do tipo de solo e da disponibilidade de maquinários, apresenta um tipo de preparo que é diferente do de outras regiões. Qualquer que seja o preparo, entretanto, o essencial é que ele possa ser realizado o mais profundo possível (mínimo de 20 cm de profundidade). Deve-se considerar dois casos distintos de preparo do solo: o de um terreno que será plantado pela primeira vez com cana e o de um terreno já cultivado com cana (renovação de canavial).
Limpeza do terreno
Devem ser feitas operações de desmatamento, destoca, enleiramento de restos, queima e desenraizamento no caso de terrenos cobertos por florestas naturais ou artificiais, inclusive frutíferas. Deve-se proceder à aração comum para destruir e incorporar restos culturais, no caso de terrenos com restos culturais de uma cultura anual qualquer. No caso de pastagem, que pode vir a se constituir em planta daninha para a cana (exemplo: braquiária) seria interessante a aplicação de glifosato e, após a seca completa da braquiária, proceder à aração.
Preparo
- Uma aração profunda (mínimo de 20 cm) ou uma gradagem pesada (grades de mais de 4.000 kg);
- Uma gradagem média para destorroamento; e
- Uma gradagem leve para nivelamento, na véspera do plantio.
Preparo convencional de um terreno já cultivado com cana-de-açúcar
Se a quantidade de restos culturais (palhiço) existente na área permitir, faz-se sua incorporação ao solo por meio de arado e, ou, de grade. Resolvido o problema do palhiço, faz-se uma aração para cortar raízes e rizomas da soca anterior, trazendo para a superfície do solo este material para que sofra desidratação. Este deve ficar exposto ao sol pelo menos uma semana, para desidratar bem. Depois disso, fazer uma gradagem leve para picar bem este material e incorporá-lo ao solo, facilitando sua decomposição. A aração e a gradagem leve podem ser substituídas pela passagem da grade pesada. A subsolagem normalmente é utilizada nas grandes áreas canavieiras, principalmente em solos argilosos, devido ao tráfego de máquinas, tratores e caminhões, que causam compactação no solo. No caso de pequenas áreas, onde este tipo de tráfego não existe, a subsolagem não é necessária. Cerca de um mês antes do novo plantio, faz-se uma aração profunda (mínimo de 20 cm) ou uma gradagem pesada, seguida de uma gradagem média para destorroamento. Na véspera do plantio, faz-se uma gradagem leve para o nivelamento.
A planta se desenvolve mais em região de alta intensidade luminosa, de pouco risco de geadas e de baixa incidência de ventos.
Preparo mínimo ou reduzido
Dependendo do tipo de solo, o preparo reduzido do solo poderá ser adotado. Em terrenos arenosos (sem problemas de compactação), a eliminação das soqueiras remanescentes de cana-de-açúcar pode ser feita quimicamente, utilizando-se o glifosate (Roundup ou Glifosate Nortox – 4 a 5 L/ha). Assim, após o ultimo corte econômico do canavial, espera-se a rebrota e, quando ela atinge de 0,60 a 1,00 m, faz-se a aplicação dirigida do produto com pulverizador de barra convencional, com os bicos do pulverizador posicionados acima da rebrota ou lateralmente, mas pulverizando-se bem as plantas. Na época de plantio, faz-se a sulcação diretamente entre linhas e realiza-se o novo plantio.
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Por Silvana Teixeira
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