Todos lá pelas bandas de Porto Firme conheciam o “Conselheiro Lotero”, homem simples, octogenário, de olhos brilhantes e rosto marcado pelo tempo.
Embora analfabeto, era inteligente, viajado, experiente; para tudo tinha sempre uma solução, uma conselho, o que lhe valeu o título de conselheiro.
O comerciante Seu Antônio de Sacota, senhor respeitado, casado há mais de 20 anos, começou a desconfiar que sua mulher, Dona Maria José, estava sendo infiel a ele.
O mundo veio abaixo, em tudo Seu Antônio via traição. Um simples vestido novo de chita era para se embelezar para o outro. Já não conseguia dormir, lubrificou a cartucheira, pensou em matar a mulher, tinha que descobrir o rival e passar fogo nele também, sua cabeça fervilhava quando resolveu procurar o “Conselheiro Lotero".
Muito sem jeito, com voz baixa, triste, contou tudo.
Terminado o relato, um silêncio profundo invadiu a sala simples do Conselheiro que levantou os olhos e, com tranquilidade, proferiu o tão esperado conselho:
- Meu filho, quem dera que todo problema fosse esse. Também já passei por isso, mas Deus me deu forças e eu resolvi. Sabe, quando eu morava naquele casarão perto da cada de Sô Deco Vidigal, tinha o vício de jogar; você era menino e não deve se lembrar. Quando eu chegava em casa, tarde da noite, batia na porta da frente e corria para os fundos...
Fez uma pausa. Seu Antônio ansioso, perguntou:
- E dá certo Conselheiro?
- Dá sim, lá em casa, peguei uns quatro.
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