No Brasil, a piscicultura, como atividade rural, surgiu há cerca de 70 anos, no Estado de São Paulo, com a introdução do cultivo da carpa comum, truta arco-íris e a tilápia. Esse cultivo só se consolidou na década de 80, com o desenvolvimento da tecnologia da desova induzida para o pacu e o tambaqui. Tal fato viabilizou os processos produtivos com o escoamento de produção em larga escala.
Fator importante que deve ser aqui ressaltado é que o peixe cultivado pode chegar ao consumidor com preços inferiores aos dos capturados na natureza. As peixarias, por sua vez, se abastecem do tradicional pescado proveniente de nossos rios, com preços superiores aos praticados pelos piscicultores.
A alimentação dos peixes é um fator extremamente importante em um projeto de piscicultura. Muitos piscicultores caseiros pensam que piscicultura é só construir um viveiro para criação de peixes e não fazem muito esforço para alimentá-los, fazendo com que cresçam muito pouco.
Portanto, a nutrição é ferramenta importante no processo de produção de peixes e avança juntamente com o desenvolvimento das indústrias de pescado e processadoras de ração.
Há algumas décadas, ao estimular a criação de peixes em nosso país, foi preconizada a ideia de seu consórcio com outras espécies animais, principalmente com suínos. Entretanto, tal prática resulta em baixa produtividade por unidade de área, além de comprometer a qualidade da água dos tanques.
Atualmente, um grande número de piscigranjas emprega rações completas tendo obtido bons resultados zootécnicos
Atualmente, um grande número de piscigranjas emprega rações completas e, como consequência, tem obtido bons resultados zootécnicos. A produtividade em piscicultura depende, principalmente, da qualidade dos ingredientes que compõem a ração e da eficiência de seu processamento.
O produtor que inicia uma criação de peixes sabe que são necessários alguns pré-requisitos básicos, como uma boa conformação do terreno para esse fim, um aporte de água em abundância e de boa qualidade, um planejamento adequado sobre a construção dos tanques, a escolha das espécies que mais se adaptam à região da sua propriedade, o manejo alimentar, dentre outros itens.
O manejo alimentar depende, principalmente, do tamanho dos peixes, da dimensão dos tanques ou viveiros e do sistema de manejo da criação e peixes utilizados (se intensiva, ou semi-intensiva), do comportamento alimentar da espécie cultivada e também da temperatura e da qualidade da água.
“A garantia de obtenção de ótima resposta produtiva e máximo crescimento dos peixes depende do atendimento das necessidades protéico-energéticas e demais nutrientes essenciais”, afirmam os professores Luiz Edivaldo Pezzato, Newton Castagnolli e Fabrício Rossi, do curso Nutrição e Alimentação de Peixes, elaborado pelo CPT – Centro de Produções Técnicas.
Uma das grandes preocupações dos produtores certamente é o custo da ração. Desse modo, a ração dos peixes deve ser o mais barata possível, sempre se levando em consideração sua qualidade, que deve garantir os níveis de desenvolvimento e crescimento do animal. Por outro lado, dietas mais caras proporcionam um melhor crescimento em um menor espaço de tempo, o que em alguns casos resulta em mais economia a longo prazo.
Sem uma boa alimentação, os peixes não irão desenvolver-se de forma satisfatória, além de poderem adquirir doenças de ordem nutricional. O ideal é fornecer a ração sempre nos mesmos horários, todos os dias, para que haja um condicionamento dos peixes.
Atualmente, um grande número de piscigranjas empregam rações completas, o que tem proporcionado excelentes resultados zootécnicos. Essas respostas são consequências do atendimento das necessidades proteico-energéticas e dos demais nutrientes essenciais, da qualidade dos ingredientes que as compõem e da eficiência de seu processamento.
As rações, à medida que os peixes crescem, devem ter reduzidos os seus teores de proteína e a quantidade de ração a ser fornecida, em função do peso vivo dos peixes e também da temperatura da água do viveiro, uma vez que, com a queda da temperatura ambiente, reduz-se o metabolismo dos peixes e, como consequência, o seu apetite.
O consumo de alimento de um indivíduo diminui proporcionalmente ao seu peso à medida que esse indivíduo cresce, sendo essa redução especialmente grande durante as fases iniciais de desenvolvimento, quando as taxas de crescimento diário são mais elevadas. Desse modo, é importante avaliar a quantidade necessária de alimento para o cultivo de qualquer espécie, desde sua fase larval até o momento de despesca.
O manejo alimentar deve levar em consideração os hábitos do animal, o sistema de cultivo, a produtividade natural, as condições climáticas o manuseio do alimento, entre outros aspectos.
É importante avaliar a quantidade necessária de alimento para o cultivo de qualquer espécie, desde sua fase larval até o momento de despesca
Os peixes podem ser criados de várias maneiras, dependendo das condições e da qualidade da água, espécie e aceitação de mercado. É possível dividir o sistema de criação em extensivo, semi-intensivo, intensivo e superintensivo.
a) Sistema extensivo: tem como características principais a alimentação natural, densidade de estocagem menor que 2.000 peixes/ha, sem monitoramento da qualidade de água, e viveiros sem planejamento (com dimensões variadas).
b) Sistema semi-intensivo: caracterizado por alimentação natural e suplementar, densidade de estocagem de 5.000 a 20.000 peixes/ha, monitoramento parcial da qualidade de água e viveiros construídos com planejamento prévio. É o sistema mais difundido na criação de peixes no mundo, sendo que no Brasil cerca de 95% da produção de peixes é proveniente desse sistema de criação.
c) Sistema intensivo: nele, adota-se a alimentação completa, com densidade de estocagem de 10.000 a 100.000 peixes/ha, há monitoramento total da qualidade de água e tanques construídos com planejamento. É normalmente aplicado às espécies de monocultivo (criadas isoladamente).
d) Sistema superintensivo: ocorre alta renovação de água nos tanques, a densidade de estocagem não é considerada por m2, mas sim por biomassa/m3. A ração deve ser nutricionalmente completa e ter estabilidade na água, pois é a principal fonte de alimento. Exemplos: race way e tanques-rede.
Já a dieta influencia o comportamento, a integridade estrutural, a saúde, as funções fisiológicas, a reprodução e o crescimento dos peixes. Portanto, a determinação das exigências qualitativas e quantitativas dos nutrientes essenciais é de fundamental importância para uma adequada formulação das dietas para os peixes.
Em condições de cultivo intensivo, os principais fatores ambientais podem ser manipulados tendo em vista otimizar a produtividade, através da manipulação da temperatura, do fotoperíodo, da qualidade da água e da quantidade e tipo de nutrientes oferecidos. Têm-se observado que as variações na temperatura da água não afetam as exigências quantitativas de proteína e energia de algumas espécies, mas modifica, em quase todas, a quantidade da ingestão total, velocidade de crescimento e índices de utilização dos nutrientes.
As proteínas são os principais constituintes orgânicos dos tecidos dos peixes, perfazendo 65 a 75% da matéria seca corporal. Portanto, elas correspondem ao nutriente de máxima importância, pois são os componentes constituintes do organismo animal em crescimento e, entre outras, são responsáveis pela formação de enzimas e hormônios.
Deve-se considerar a dimensão dos tanques ou viveiros, o sistema de manejo, o comportamento alimentar da espécie cultivada, a temperatura e a qualidade da água
A ingestão regular de proteína ou aminoácidos é necessária porque os aminoácidos são utilizados continuamente pelo peixe, ou para construir novas proteínas (como durante o crescimento ou reprodução) ou para substituir as proteínas existentes (manutenção).
Fontes proteicas:
a) Farelo de soja: amplamente empregado na formulação de rações para peixes, pode ser encontrado nas mais diversas regiões do país, com preço variável. A qualidade desse alimento pode sofrer influências de fatores chamados antinutricionais que podem comprometer o desempenho dos animais. Portanto, a torragem adequada da soja antes do preparo da ração é fundamental para bloquear a ação desses fatores.
b) Farinha de peixe: é um subproduto desidratado e moído, obtido pela cocção do peixe integral, do corte de órgãos ou de ambos, após extração parcial do óleo. Apresentam equilíbrio ideal em aminoácidos essenciais e é importante fonte de fósforo e microminerais (zinco, manganês, cobre, selênio e ferro) aos peixes.
c) Farelo de algodão: caracteriza-se por apresentar alto nível de proteína; porém, também apresenta fatores antinutricionais, o que limita sua utilização a níveis preestabelecidos, de acordo com cada espécie.
d) Farelo de amendoim: este alimento, embora tenha níveis bons de proteína, apresenta alguns problemas de utilização, tais como: alto teor de óleo, tornando-se susceptível à rancidez; pode apresentar contaminações por fungos (aflatoxinas), entre outros.
e) Farelo de canola: o uso deste alimento nas rações de peixe ainda não foi muito estudado, mas acredita-se que seja uma fonte potencial de origem vegetal.
f) Concentrados proteicos de origem vegetal: em muitos casos, estes concentrados se assemelham à farinha de peixe quanto ao nível proteico. Geralmente, podem ser incluídos nas rações em maior quantidade que os farelos. Exemplos: concentrado proteico de soja, concentrado proteico de colza, concentrado proteico de folhas de diferentes plantas.
g) Levedura: trata-se de um subproduto da indústria alcooleira, sendo que sua disponibilidade no mercado tem aumentado nos últimos anos.
A garantia de ótima resposta produtiva e máximo crescimento dos peixes depende do atendimento das necessidades protéico-energéticas e demais nutrientes essenciais
Fontes energéticas:
a) Milho: é uma das principais fontes de energia para peixes onívoros e herbívoros. A forma mais utilizada é o milho moído. Seu teor de inclusão é dado em função da disponibilidade, da viabilidade econômica, analisando sempre seu teor de umidade, presença de micotoxinas, resíduos de pesticidas e sementes tóxicas.
b) Sorgo: substitui o milho em alguns casos, porém, apresenta problemas devido ao tanino, uma substância tóxica para os animais. Porém, atualmente já existem variedades de sorgo com níveis de tanino mais baixos.
c) Farelo de arroz: no mercado existe o farelo de arroz desengordurado, o farelo de arroz integral e o farelo de arroz integral com casca. Podem ser usados em substituição ao milho, trigo aveia, sorgo etc. Ao utilizá-lo em rações para peixes, deve-se ter o cuidado de adicionar junto um antioxidante, pois são sujeitos à rancificação, devido ao alto teor de gordura.
Confira mais informações, acessando os cursos da área Piscicultura.
Por Silvana Teixeira
Este conteúdo pode ser publicado livremente, no todo ou em parte, em qualquer mídia, eletrônica ou impressa, desde que contenha um link remetendo para o site www.cpt.com.br.
Cursos Relacionados
Deixe seu comentário
Informamos que a resposta será publicada o mais breve possível, assim que passar pela moderação.
Obrigado pela sua participação.
Comentários
João De Jesus teixeira
19 de out. de 2019Gostaria de criar uma ração para tilápia sem uso de tóxicos, sem uso de farelos ou rações industrializadas, na procura de criar um peixe rico em ômega 3 e diminuindo o ômega 6
Resposta do Portal Cursos CPT
23 de out. de 2019Olá, João
Tudo bem?
Como é bom ver pessoas que se interessam em aprimorar seus conhecimentos!
O CPT disponibiliza cursos na que auxiliarão você!
Acesse o link https://www.cpt.com.br/busca/cursos/tilapias e conheça melhor nossas opções de capacitação.
Uma de nossas consultoras entrará em contato com você para passar maiores detalhes sobre os assuntos abordados no curso.
Atenciosamente,
Erika Lopes
Carlos
21 de mai. de 2019Boa tarde Gostaria de receber o Boletim Informativo sobre piscicultura. Obrigado
Resposta do Portal Cursos CPT
21 de mai. de 2019Olá Carlos,
Agradecemos sua visita e comentário em nosso site.
Você será cadastrado para receber nosso boletim informativo. Com ele, você terá acesso a conteúdos sobre piscicultura, além de receber nossas promoções e lançamentos de cursos.
Atenciosamente,
Victor Sampaio
celio gomes soares
7 de ago. de 2017gostaria de informações referente ao que pode ter acontecido na minha criação de peixe Tanbaqui após eu ter substituido a ração por milho houve mortalidade total dos peixes do tanque os peixes estavam em tamanho de 15 centimetros a agua está em temperatura ideal ,porfavor aguardo respostas bom dia !
Resposta do Portal Cursos CPT
7 de ago. de 2017Olá, Celio.
Agradecemos sua visita e comentário em nosso site. Recomendamos que você procure um especialista em piscicultura para que possa te orientar melhor.
Atenciosamente,
Renato Rodrigues.
israel cesar
25 de abr. de 2016Olá sou de Bragança Paulista - SP, quero começar a trabalhar nessa área de piscicultura gostaria de saber qual é o tamanho mínimo do terreno para poder montar meus tanques quero trabalhar com tilápias ou trairás.
Resposta do Portal Cursos CPT
26 de abr. de 2016Olá Israel,
Agradecemos sua visita e comentário em nosso site. Para mais informações cadastramos seu e-mail para receber nosso boletim informativo sobre piscicultura.
Atenciosamente,
Ana Carolina dos Santos
FERNANDO D SOUSA
12 de jun. de 2015qual as novidades na criação de peixe em taque ?
Resposta do Portal Cursos CPT
15 de jun. de 2015Olá, Fernando!
Agradecemos sua visita e comentário em nosso site. Para mais informações cadastramos seu e-mail para receber nosso boletim informativo.
Atenciosamente,
Ana Carolina dos Santos