Durante 25 anos, nossa granja se esmerou na criação integrada de suínos, de galinha caipira, na produção de leite e de algumas hortaliças e frutas com as quais compunha sua "cestinha da roça", entregue de porta em porta, numa clara relação de venda direta ao consumidor, o que permitiu sua sobrevivência, apesar da fragilidade de sua minúscula escala econômica de produção.
Resistiu heroicamente aos mirabolantes planos econômicos e ironicamente começou a sucumbir no Plano Real. É que com a estabilização dos preços, num primeiro e longo momento, a diferença entre o valor do produto da grande indústria e o do fruto da produção artesanal tornou-se tão tênue que inviabilizou aquela boa e velha prática.
Observamos, no entanto, que os fregueses da "cestinha" apreciavam sobremaneira as visitas que nos faziam em suas horas de folga e nos fins de semana. Não raras vezes ficavam também para o almoço "boca livre", com a finalidade de esticar a tarde desfrutando da situação panorâmica do local, aproveitando para acompanhar e participar dos processos de criação/plantação/transformação. No fundo, era essa a nossa estratégia de marketing, com a formação de multiplicadores da mais absoluta confiança, o puro e infalível boca a boca.
A crise nos ensinara que naquela refeição, servida gentilmente ao visitante estava uma bela alternativa para a solução dos nossos problemas, se utilizássemos de forma criativa a qualidade do produto, desta feita enriquecido pelo talento gastronômico familiar, através da ousada proposta de implantação de um restaurante rural, com cardápio baseado tão somente na própria produção caseira. Nascia, assim, no cenário de um barracão ao lado de casa, o Trem da Serra, como se fora uma verdadeira bênção para nós e, com ele, o turismo rural na região.
Com isso, passamos a experimentar, na escala completa de verticalização, agora otimizada pelo turismo, a agregação de valor a cada produto na ordem de CINCO VEZES, em média, comparado ao seu preço de venda anteriormente conseguido. Saltamos, então, de QUATRO para VINTE E SEIS funcionários. Todos oriundos das famílias originais dos trabalhadores na granja, o que resultou num imenso benefício social para aquela gente, antes sem maiores perspectivas.
Nos últimos cinco anos, tivemos o privilégio de receber, em média, 700 turistas semanais que, para nossa ventura, se deliciam com a culinária caipira, percorrem romanticamente as trilhas do cerrado, acompanham a lida com os animais e plantas, permitindo-nos um faturamento bruto em torno de R$ 30.000,00/mês, repetimos, nos diminutos três hectares de que dispomos para produzir alimentos.
Com isso o produtor rural Renato, dono desta modesta granja, confirma a premissa que não é preciso ser grande para ser lucrativo.
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Por Silvana Teixeira.
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